A descrição foi possível a partir de fósseis que incluíram ossos do crânio, mandíbulas com dentes e escamas.
Segundo o grupo, a descoberta amplia o conhecimento sobre a diversidade dos peixes que habitavam os ambientes continentais no final da Era Mesozoica, quando os dinossauros ainda dominavam o planeta.
Atualmente, os Lepisosteiformes contam com apenas sete espécies vivas, entre elas a peixe-jacaré (Atractosteus spatula) e a gar-de-nariz-grande (Lepisosteus osseus), comuns na América do Norte. No passado, contudo, a ordem dos Lepisosteiformes era muito mais diversa e amplamente distribuída.
"A principal diferença do Britosteus amarildoi para os outros Lepisosteiformes dos ambientes modernos, para citar uma que é mais simples, é o focinho mais curto do Britosteus, os Lepisosteiformes modernos têm um focinho mais alongado. É uma diferença bastante visível", explicou o pesquisador e doutor em Paleontologia, Thiago Marinho.
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Britosteus amarildoi fóssil peixe campina verde uftm unicamp — Foto: Pedro Henrique Fonseca/Divulgação
O doutor conta que os fósseis do Britosteus amarildoi começaram a ser descobertos pela equipe Centro de Pesquisas Paleontológicas da UFTM a partir de 2011.
"Nós encontramos essa área que tinha muitas escamas na Fazenda Três Antas, com colaboração do proprietário, o seu Amarildo. Em 2012, retornamos lá, coletamos mais material, e era um material que estava desarticulado, então não tinha nenhum esqueleto concluído", relembrou.
Segundo Marinho, durante as escavações, os ossos eram encontrados todos separados, com várias escamas isoladas.
"Levou bastante tempo para preparar tudo que a gente coletou, que foram centenas e centenas de fósseis desse peixe. Buscamos entender quantas espécies diferentes tinham, quantos indivíduos tinham, se a gente conseguia montar algum mais completo pra gente poder ter uma descrição mais precisa", disse.
O estudo completo foi publicado apenas em janeiro de 2025, no Journal of South American Earth Sciences. Sendo assim, o Centro de Pesquisas Paleontológicas da UFTM atuou na pesquisa por 14 anos.
Thiago explica, ainda, que a descoberta é importante para os próximos estudos da fauna aquática do Brasil.
"Colabora em uma questão de paleobiologiografia, ou seja, ajuda a entender como foi a dispersão desses peixes lá no período Cretáceo e porque eles foram extintos aqui na América do Sul mais recentemente", afirmou.
Segundo o pesquisador, por meio da descoberta, novos estudos também podem fazer as relações evolutivas desse grupo de maneira global.
"Sempre que a gente consegue agregar mais informação, mais espécies às análises, isso tudo começa a se encaixar de uma maneira mais ampla e permite com que a gente tenha uma compreensão maior tanto dessa fauna aquática quanto dos ambientes continentais aqui da América do Sul, durante o período Cretáceo, em diante."
O nome da nova espécie homenageia dois importantes colaboradores da paleontologia brasileira.
O epíteto específico amarildoi faz referência a Amarildo Martins Queiroz, ex-proprietário da Fazenda Três Antas, que colaborou com os pesquisadores e descobriu os primeiros fósseis de crocodilos no local. Já o nome do gênero Britosteus é uma homenagem ao professor Paulo Brito, destacado paleontólogo brasileiro, conhecido por contribuições ao estudo da fauna de peixes fósseis de Gondwana.
Segundo a UFTM, desde 2011, a Fazenda Três Antas tem sido um importante campo de pesquisa paleontológica, resultando em descobertas como os crocodilos pré-históricos Campinasuchus dinizi e Caipirasuchus mineirus. Agora, Britosteus amarildoi se junta a essa lista de fósseis notáveis.
Por: G1